segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Amor enlatado


O moderno que rasteira.
Que falar antigo, desusado.
Facadas e dimensões paralelas.
Caneladas.

A lingua que rasteja
No colchão, na sua beira.
No dedo que corta o corpo mutilado
um amor fechado
um novo amor metalico
de abertura fácil e conservação variavel.
Amor enlatado.
Para guardar na fronha
da almofada
e aquecer suave em banho maria.
Para sempre.
um buraco........

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Coração Menina

Pela terceira hora te espero
No canto mágico do silêncio
À solta corre a ânsia sombreada de desespero
Pela terceira hora me deixas
No remate vazio de um beijo
Nos dedos que se soltam e se erguem num aceno

Meu Coração Menina
lavado meu corpo malva
gela um sorriso que brilhava
Teu coração menina
amor rio já não corre
Pela terceira hora morre
seco o sopro de vida que amava
... coração menina .....

Véspera

Ontem
Seria uma manhã confortável
soprada gelada
pelo nascer do inverno
Um sorriso ingénuo
Numa palavra calada

Ontem
Seria um trago amavél
irlandês amargo
pelo gosto carente
um arrepio temente
Num aperto largo

Ontem
Seria uma demanda frágil
couraça lustrada
pelo polir insano
um pensar engano
Numa mão apartada

Ontem
Seria um dormir primeiro
reduto aceso
pelo desencontro fugaz
uma timidez audaz
Num abraço avesso

Ontem
Seria uma fortuna aberta
maré amena
pela coluna de luz
um beijo seduz
Numa voz serena

Hoje
É a vespera
da manhã amanhã altar
no futuro que a testa
a fonte fonesta
presente (do)Eu
primeira pessoa no singular

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Escada Cadente

Ver-te
em que ela no degrau mais alto
ficava à tua altura
Face com face
tronco com tronco
Despedias-te quando o dia se despede da noite.
Beijavas-lhe a testa
suave
Tua mão no seu cabelo
afastando-o da cara

Saber-te
O carinho, ela
teu carinho, nela
Tua mão no seu cabelo
meu viver pesadelo
meu ser amargo
mal-amado

Lembrar-te
Na escada cadente
No abraço
Na noite crente
No dia pendente
o gesto de credo
pela tua mão no seu cabelo
viver pesadelo
Pelo teu carinho
trovão placebo
forçada poesia
tamanha ironia
poção eutanásia

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Sorriso Pedra

Há um corpo de rio
luzido pelo sol
em hora matinal.
Ergue-te cidade a amanhecer.
Concha aberta pousada
No dourado da tua face pedra
um lento secular flutuar.
Ondula a luz e a cor
e a cidade que te cresce perante.
Sulca o olhar de saudade
de memória ida
nunca acabada.
Pela manhã. Ver e chegar.
Arrepio na barriga
O ondular.
O barco teatro que a ti cruza rápido
Chegar a ti, cidade
Olhar aberto
Coração vontade
Pela ponte vermelha
no morrer da tarde
Sair de ti a medo
trair-te, cidade.
Baloiça tremendo o barco teatro
Brinquedo solto
Abalroado
Direito a ti, cidade
ao Augusto arco
ao terreiro,
ao amarelo paço
ès luz
ès sorriso pedra
de boca rasgado
E és Lisboa, nenhuma outra.
ès Lisboa que abraça,
nascida
acordada
bela
jazida
sobre o rio
berço de àgua

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Brilhantes!

É uma vaga crivada pelo olhar doente
Uma face horrenda boquiaberta de vento
uma lagrima ejaculada
tua boca semente
um paralelo fodido goteja
ébrio temente
soberba
veneno
prisão do momento

Veneno

Borboleta trovejas
sentida sem chão
pestanejas
escutas o lúcido que te conduz
soltas o arrastar aleijão.
Palavras maleitas
praguejam em vão
freeway esquecimento
risco branco espelho
Colheitas de luz

Limpa a cara
no véu dual
Pele pirata
cubista de sal
Mostra o podre no esmalte dos dentes
Navega a salvo, lambendo inocentes
Beijos gentis bifurcados
soltam pombas, batem palmas
às mágoas
jurados, condenados, enforcados
convalescentes
as asas caladas
as asas caladas
venenos Brilhantes!